Quando adolescente quis muito ser uma personagem de Tim Burton, gótica, cheia de constrastes e irreal.
Obviamente não cheguei nem perto.
Em seguida flertei com a Nouvelle Vague e suas mulheres multifacetadas e encantadoras. Também não me coube o papel.
Quis ser voluptuosa e felliniana; neuroticamente inteligente e cômica sob o olhar de Woody Allen. Mas me faltaram os peitos e o espírito.
Desejei ainda o charme onírico e a loucura cafona de Lynch, mas a minha loucura era real demais. A beleza um quê demoníaca de Pollanski exerceu um certo apelo, porém carrego comigo uma covardia que é incompatível com os abismos de alma nela implicados.
Fugi de Bergman enquanto pude. Mas ele estava lá. Eu estava lá, na verdade. Enquadrada.
Não adiantou tentar escapar.
O desnudamento das minhas vísceras, o esgarçamento dos meus limites. Retratados.
E se essa constatação não me causa qualquer prazer, digo alto e claro: troco todas as minhas camadas psicológicas e disposição metafísica, toda a minha intensidade emocional pela simplicidade de uma comédia romântica.
Uma heroína com um simples final feliz.
Talvez você seja uma personagem de Tarantino e não saiba.
ResponderExcluirE.