O primeiro returno de saturno a gente nunca esquece.
Foram vinte e oito anos de auto-aversão moderada a grave. Engraçado pensar nisso agora, porque não havia me dado conta da real extensão do meu self-disgust até bem recentemente.
Foi preciso aceitar as pequenas coisas mais inaceitáveis, os maiores medos e chafurdar, dar um mergulho de cabeça na perspectiva do fracasso - real ou iminente - para encontrar algum senso, mesmo que pequeno de amor por mim mesma.
E uma vez engatilhado o processo, não há meios de interrompê-lo. Há, sim, sem dúvida, os retrocessos.
Aliás, sou ótima com eles. Acabei de me ver entremeada em um deles, bem interessante - e doloroso, como não podia deixar de ser. Bem ao meu estilo netuniano de sempre, sem consciência, com muita culpa e escapismos exemplares.
Lua em peixes conjunta à lua natal. Um delícia, só que não.
E aqueles que se perdem em cardumes difusos, falsos sensos de si - paradoxalmente reais até que se prove o contrário - mares profundos e torvelinhos emocionais (mas não vão à praia em circunstância alguma) e só encontram algum retalho de si em copos de vodka com limão ou em versos (graças aos extintos deuses do olimpo), me entendem. ou não.
Aula-magna-de-desconhecimento-completo-e-perplexo-daquilo-que-se-é.
Foi isso. Um carnaval às avessas. Um-dinheiro-gasto-que-não-podia-gastar com fantasias lindas e um furor hipomaníaco com linhas, agulhas, fitas dupla-face, banana e capacidades recém-descobertas de transformar estrelas de lantejoulas douradas em bicos de angry birds, costurar vestidos e transformar um bule de porcelana em uma bolsa de confetes.
Apenas para obliterar, mascarar (esse sim o meu verdadeiro talento carnavalesco) a foliã que eu não sou.
Durante esses anos carreguei uma velhice em mim, envergonhada e reservada como a capricorniana que não aceitei ser. Constrangida por me sentir uneasy em multidões e completamente fora do meu elemento em lugares dos quais não pudesse fugir caso quisesse.
Essa velhice sempre teve suas contrapartidas reais e simbólicas. A seriedade excessiva mesmo na primeira infância, os primeiros cabelos brancos aos doze anos e os olhos empoçados aos vinte e dois.
O desconforto e a necessidade de ser qualquer coisa, exceto aquilo. Não é fácil se sentir com sessenta anos aos oito. Mas eles tentaram me tranquilizar. Professores, amigos, mãe e até astrólogos. "Quando você crescer vai se sentir melhor", "você tem a alma velha, mas isso não é necessariamente ruim", "capricornianos são assim mesmo, rejuvenescem com os anos"...
Trinquei os dentes e aceitei o desafio. Tentaria me divertir à força ao longo dos anos que viriam, e a diversão teria que ser aquilo que eu despejaria goela abaixo, de preferência com algumas doses de álcool batidas e acrescidas de gelo; seria quem eu quisesse ser, mesmo que para isso eu tivesse que perder de vista o que eu tivesse de melhor.
E me diverti. E honestamente não consigo mais saber a diferença entre o que foi genuíno e o que foi fingimento. Estou aprendendo a me acostumar com esse característica minha e chegando lentamente à conclusão de que não importa muito
"Um estoque de espelhos dobráveis e máscaras". Quando um se vai, já há outro preparado, nadadora medley em posição para o revezamento.
Descobri coisas interessantes a meu respeito nesta travessia que acreditei ser de mim a não-mim - e que agora tenho a impressão que se deu em sentido contrário, para a minha surpresa.
A primeira descoberta é que sou invariavelmente uma péssima atriz, mas tenho várias máscaras e a única pessoa que eu consigo efetivamente enganar é a mim mesma. E isso tem um preço alto.
Reconhecer o meu ridículo foi importante esses dias. A imagem que não consigo esquecer, uma mulher surtada, semi-eufórica, olhando para as vinte e cinco fantasias em cima da cama, sem ter tomado café ou almoçado direito. Sem sequer parar para se perguntar que tipo de carnaval queria ter.
Já estava sentindo falta dos seus textos, vezenquando vinha aqui e dava de cara com o 'Finados'.
ResponderExcluirÉ mesmo um peso ser velha aos vinte e poucos ['onde será que isso começa?']. Olhar no espelho torna-se forçoso.