Te escrevo a mão, prestes a entrar, pé ante pé, nesta casa de gelosias e biombos imaginários, pois sei que uma vez dentro, surgirei com mais uma, essas que já me são tantas - heteronímicas e pérfidas, doces ou covardes - incontáveis, craqueladas, até agora. Somos duplos e múltiplos, como peixes, meu amor.
A sua respiração já me frequenta há tempos,
à distância, antes até mesmo de nos encontrarmos
[pela primeira, pela segunda vez?]
e me vejo obrigada a reorganizar o meu corpo
ao teu ritmo sonar, à tua pulsão,
você, que é tocado pelo fogo
e que secou minhas lágrimas como se nunca tivesse existido
água neste poço.
Ainda não sei bem o que fazer de ti, o arqueiro inflável de setas perigosas. Clown ébrio, exu insondável.
Não sei como me manter a salvo de tua sorte jupiteriana e do cortejo bacante dissimulado de caçadoras argentinas, dançarinas de mastro e esguias valquírias,
que andam no teu rastro.
Desconheço a extensão de todos os teus nomes, dos meus e dos que virão. O signo do duplo é a nossa casa e nessa casa só se entra uma vez.
Há meses que as moedas se avizinham e anunciam um andarilho. Ouço teus cascos ao fundo.
O baralho deita sobre a toalha da mesa o jogo do prestidigitador, um mago de dedos rápidos e palavras afáveis, carregando livros sobre os ombros e versos sob a pele de lobo.Sim, os oráculos delineam o contorno
de um marido. É isso o que você é? - me diga
e eu prometo contar-te dos filhos gêmeos que profetizei na noite
em que pusemos os olhos um no outro.
Diga a esse morcego sortudo que o casamento é para os fortes.
ResponderExcluirSaudações,
E.