qualquer coisa de preto
me acorda à noite
como
a musculatura
pesada
que cresce
na umidade
oleosa do poema
expandindo
interstícios;
paredes cobertas de fungos
colam-se
à minha pele franzida.
tenho miríades de caixas
no chão
objetos lacrados
embalados
na sua ausência
[achados e perdidos
que não se toleram
entre si]
há um desejo de pura taxidermia
decantado no fundo
do copo
- rebarbas
de uma vivissecção emocional:
suturas disfóricas
inextrincáveis.
qualquer coisa de preto
emite pruridos no golfo
sulfúrico da palavra secreta
engolida com os comprimidos
para dormir.
mas é preciso que
o céu esteja
impermeável a isso.
não há piedade
na anomia
na certeza
nos corpos
que emitem luz
é preciso que o quarto
permaneça vedado
a tudo que dança, que espirala
em ascensão desabalada e
se reproduz.