na companhia de uma gata no cio adormecida (sem metáforas), a verdade é que contemplando possibilidades lúgubres aqui no abafamento tijucano do meu quarto e soslaiando a perspectiva de um fim de semana falido [é sempre preocupante quando ainda na quarta-feira se constata o precoce desaparecimento do dinheiro], eu chego a algumas conclusões.
é preciso procurar algumas alternativas. explorar diferentes potenciais. arriscar, sabe? nem só de psicólogas mafiosas e psicanalistas de araque [como fui gentilmente chamada essa semana] se fazem as ritas. afinal, são precisamente tais momentos penosos, momentos cruciais e edificantes, de nos confrontar com as limitações mais frustrantes, que conhecemos os trunfos, os ases na manga. os recursos pessoais ocultos.
creio que quanto a isso, não se trata do momento de cultivar aquela modéstia saudável, isto é, aparar as arestas do ego em benefício de uma aceitação social superficial. em absoluto. acredito que estou me dirigindo à crista do
turning point da minha própria vida. é hora então de assumir as minhas [im]potencialidades e não-vocações seriamente. chega de negligenciar ou minorizá-las; é chegada a vez de encará-las de frente e investigar suas reais oportunidades de lucro.
vejamos.
fazendo um levantamento das minhas habilidades latentes (e também as mal-aproveitadas), confesso ter me surpreendido. são bem mais numerosas do que eu supunha.
bem, descobri que organização e senso prático, infelizmente, não constam entre elas. portanto, toda a idéia era: 1) mapear esses talentos inutilizados e 2) buscar-lhes uma aplicação rentável em seguida.
missão nº 1 cumprida. eis o resultado da minha auto-investigação:
[por uma licença poética/didática não fiz distinção entre as habilidades, os talentos e as facilidades. ah, a missão nº 2 foi cumprida na medida do possível, dadas as tensas configurações do mercado no momento]
- é possível perceber, evidentemente, que possuo qualidades investigativas inequívocas. penso, portanto, que estou apta a ingressar no mundo detetivesco. apesar de não contar com experiência, a verdade é que tenho vasto conhecimento sobre a literatura e dramaturgia da área, sobretudo autores como
Christie e
Conan Doyle e também peças midiáticas como
CSI,
Without a trace e
Cold Case. além, é claro de ter desenvolvido a capacidade de compreensão da mente criminosa e perversa durante longos cinco anos de faculdade de psicologia.
- sou uma dubladora habilidosa. com ênfase em cabritos, ovelhas, gatos (filhotes, gatas no cio e felinos irascíveis) e fanhos. com este último grupo, já realizei trabalhos de intérprete e tradutora.
- sou uma razoável intérprete de purrtugueish de Purrtugal. com sotaque anasalado do Porto.
- tenho amplo domínio da arte da quirologia e quiromancia, de forma que há quase dez anos decifro mãos de amigos, desconhecidos em aeroportos e também namorados, em momentos etílicos ou descontraídos.
- jogo tarô e cartas de baralho há quase doze anos. interpreto mapas astrais e tenho conhecimentos rudimentares de sinastria amorosa. atenção: NÃO trago pessoa amada em três dias.
- a dança exótica e burlesca não está fora de cogitação, pois tenho dois anos de dança do ventre e na adolescência ainda, fui iniciada por uma sacerdotisa nas artes pompoarísticas.
- graças a uma estranha fascinação pela Romênia [por algum misterioso motivo que ainda desconheço], adquiri um extenso conhecimento sobre a vida de sua família real. ênfase na vida das princesas Jleana e Vitória Melita.
- e para terminar, corôo esta lista com a minha mais recente descoberta. um novo e interessante nicho de práticas artísticas. me refiro à declamação de poemas em enfermarias psiquiátricas. extremamente rentável, diga-se de passagem.