deliciosos excertos flaubertianos:
1846
Entre os que se fazem ao mar há navegadores que descobrem novos mundos, somando continentes à terra e estrelas aos céus: eles são os mestres, os grandes, os eternamente brilhantes. Depois já os que cospem terror por suas portinholas, que saqueiam, enriquecem e engordam. Outros saem à procura de ouro e seda sob céus estrangeiros. Outros, ainda, pescam salmão para o gourmet ou bacalhau para o pobre. Eu sou o obscuro e paciente pescador de pérolas, que mergulha nas águas mais profundas e volta com as mãos vazias e o rosto azulado.
Alguma atração fatal me arrasta para os abismos do pensamento, para aqueles recantos mais íntimos que nunca cessam de fascinar o forte. Hei de passar a vida apenas contemplando o oceano da arte, onde outros viajam ou combatem; e, de vez em quando, hei de me entreter mergulhando em busca daquelas conchas verdes e amarelas que ninguém há de querer. Assim, guardá-las-ei para mim e com elas recobrirei as paredes da minha tapera.
1846
Sou apenas um lagarto literário aquecendo-me o dia inteiro ao grande sol da Beleza. Isso é tudo.
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