neste dia há de descobrir
que dentro do teu tórax
habita uma granada fossilizada
com meu nome gravado
a letra que te fez fêmea
mistério veneno
e me privou de teu estatuto de bípede
para inaugurar uma ordem secreta
de concubinato
de circe sereia convite aberto
para colisões contatos
para denunciar enfim em ti
uma voz
capaz de hastear mortos
como bandeiras em riste
para desvendar o gesto feroz
o giro carpado
geometria incansável
da foda
do limite
das cordas
e ainda assim ser capaz de
arrancar furiosa o encanamento
da tua planta hidráulica
[tua superestimada liberdade]
ter na ponta da língua
uma sentença óssea capaz de perfurar a membrana
sustar a anestesia
revelar tua rota fundamental de fuga
sustentar aquilo que rui
mas faz costa
a parte de ti que é pavimento
e se curva em istmo
sintomática em seu mecanismo
de defesa contra a água
na convicção daquilo que se tinge
e ainda assim permanece seco
no que insiste na afirmação
de propriedade
do poema
"esse poema é meu"
mas eu sigo mesmo vagarosa
[na dúvida]
sigo na possibilidade de que
este poema não seja meu
que animal é este?
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