há que se pagar um preço
pela tentativa risível
de erigir uma pessoa
sobre uma falha sísmica.
estátuas de sal
não são realmente pessoas,
percebe?
dissolvem-se
em nevoeiro marítimo
antes do amanhecer:
meu demônio-meridiano
é uma mulher de corpo ampulheta
[um duplo]
e honestamente,
não sei bem o que fazer
com tantas curvas.
a mim, sempre agradou o sul
para onde escorregam
[salvos do abate]
todos os novilhos brancos
e também os pardos;
a verdade é que
um pacto
com o trópico de antes
me mantém
ainda por aqui,
entre os comensais.
mas tenho brotado
oceanos
[como uma boa menina
- em segredo]
para fugas eventuais.
sexta-feira, 23 de maio de 2014
segunda-feira, 19 de maio de 2014
On being the fifth girl
"sendo a quinta garota"
não temos que esquadrinhá-la
[absolutamente]
a quinta garota exibe apenas
forquilhas e ostras imperiosas
nas mãos que gesticulam
em segredo.
quiromantes e astrólogos sugeriram
a arquitetura de um desvio,
mas a verdade é que
a cor que às vezes te visita
frequenta-a sempre
em colapso
e tinge os escombros
em cada um dos ângulos secretos.
há uma vênus furiosa
alojada na quinta casa,
logo depois da suave curva -
imbuída do suave extermínio
das núpcias
sísmicas
e hordas, legiões inteiras
daquelas que a antecedem
na tua linhagem canina.
- não que isso importe.
mas há a dificuldade
dela em fazer cintilar
o traço:
o braço que ordena
a mão
convulsiona os dedos,
arrisca um sulco
feito de pólvora riscada
o punho hirto
de arpão.
ser tua quinta garota
significa não ser a primeira,
tampouco a última:
- não que isso importe.
é que
não há tempo
para donzelas catalépticas
renascentistas.
a cor que te tinge
é a mesma
que a oprime.
ser a quinta garota
é ser pura ironia
de impermanência e dúvida.
a doce oportunidade de ser
promessa pulsante
e queda-livre
[sem dobraduras?]
em mergulho duplo
de irrefreável
velocidade.
[trad. de Isadora P. O original é impronunciável]
não temos que esquadrinhá-la
[absolutamente]
a quinta garota exibe apenas
forquilhas e ostras imperiosas
nas mãos que gesticulam
em segredo.
quiromantes e astrólogos sugeriram
a arquitetura de um desvio,
mas a verdade é que
a cor que às vezes te visita
frequenta-a sempre
em colapso
e tinge os escombros
em cada um dos ângulos secretos.
há uma vênus furiosa
alojada na quinta casa,
logo depois da suave curva -
imbuída do suave extermínio
das núpcias
sísmicas
e hordas, legiões inteiras
daquelas que a antecedem
na tua linhagem canina.
- não que isso importe.
mas há a dificuldade
dela em fazer cintilar
o traço:
o braço que ordena
a mão
convulsiona os dedos,
arrisca um sulco
feito de pólvora riscada
o punho hirto
de arpão.
ser tua quinta garota
significa não ser a primeira,
tampouco a última:
- não que isso importe.
é que
não há tempo
para donzelas catalépticas
renascentistas.
a cor que te tinge
é a mesma
que a oprime.
ser a quinta garota
é ser pura ironia
de impermanência e dúvida.
a doce oportunidade de ser
promessa pulsante
e queda-livre
[sem dobraduras?]
em mergulho duplo
de irrefreável
velocidade.
[trad. de Isadora P. O original é impronunciável]
"orientações a um cavaleiro no ano do cavalo"
não há retorno
deste ponto da estrada
da minha língua
ouve-se o retinir
metálico do teu dorso
desperto de montaria
e o eco vagido de cabritos
degolados
não há retorno
deste ponto:
tome
aquelas
rotas de viagem
repletas de penugem
para
onde jurei
nunca mais
voltar
deste ponto da estrada
da minha língua
ouve-se o retinir
metálico do teu dorso
desperto de montaria
e o eco vagido de cabritos
degolados
não há retorno
deste ponto:
tome
aquelas
rotas de viagem
repletas de penugem
para
onde jurei
nunca mais
voltar
sábado, 10 de maio de 2014
Juniper
essa criatura cancelada
cruzará um continente amanhã
[abrindo uma grota
na mulher calada sentada à beira
da península do livro]
tingirá com cores de chumbo
a vontade de passear por campos
de pólvora
e abrirá a outra,
[aquela que se move plumosa,
a voz melíflua enchendo
as páginas até a margem]
com chave
de fenda
e
tesouras retinindo
não cabem condolências no momento
apenas aves
e giros
suaves
em torno do címbalo
cruzará um continente amanhã
[abrindo uma grota
na mulher calada sentada à beira
da península do livro]
tingirá com cores de chumbo
a vontade de passear por campos
de pólvora
e abrirá a outra,
[aquela que se move plumosa,
a voz melíflua enchendo
as páginas até a margem]
com chave
de fenda
e
tesouras retinindo
não cabem condolências no momento
apenas aves
e giros
suaves
em torno do címbalo
quinta-feira, 8 de maio de 2014
Dois poemas para Rita
Por Leonardo Marona
"não é a sua gata"
não é a sua gata, sou eu
o urso polar que você salva
dos predadores com bravura,
sou eu este urso com os pelos
congelados e os olhos inundados
da substância licorosa do amor.
as infecções são o nosso laço,
nossos rins, anéis ácidos de casamento.
o mar por qual navegaste em sonho
era verde pálido como o mar de inverno.
máquinas de abater montanhas situavam
a nossa mais rara permissão de abate.
sugar pie, não é a sua gata, sou eu
o urso polar que você salva
dos predadores com bravura,
ritmados e mais perto do acerto,
seguem os versos batidos a calo,
é preciso uma máquina de abater,
a força para erguer um urso polar,
a sereia põe suas brânquias a prêmio.
no fim brincaremos com baleias e golfinhos.
(meados de abril, sem data definida)
"declaração de amor no dia do trabalho"
silenciam nas ruas as dores do meu ventre.
participo em cálculos de uma infecção cardeal.
minha garganta é estreita para o acúmulo de teus olhos.
sonho com maçãs e mulheres de três metros e sumo.
há uma perda que precisamos assumir para dar início.
somos a onda arrasada por um quilômetro de pedra.
preciso dessa pontuação, do contrário seria feliz.
seu eu soubesse ao menos tocar trompete e usasse um lindo chapéu.
no teu segredo envolverei uma banheira com uma árvore falante.
as alturas recentes apenas atestam um adorável problema.
as tripas dissolvem a química do mais novo despertar.
são confusas as combinações desse constante prazer.
foges pelas águas com quatro patas, foges do tiroteio.
nos cruzamos em naufrágio e haveremos de, juntos, chegar à ilha.
e as granadas do baixo ventre germinarão em duplos.
considere isso uma carta de amor escrita no dia do trabalho.
(Rio, 1 de maio, 2014)
terça-feira, 6 de maio de 2014
incidente de bodas
beibe,
meu paletó de bolinhas azuis
escolheu dependurar-se no cabide
mais honesto do seu armário;
os sapatos quadrados de flapper
esconderam-se debaixo das suas
inúteis gavetas de cuecas,
e já avisaram: não partirão.
ainda é cedo, meu bem,
mas não temos recursos,
tampouco a resistência
dos laicos vãos para
combater a cólera
dos objetos -
antevejo um anel incognoscível
[ainda pouco visível a olho nu]
cingir-se derradeiramente
no meu dedo esquerdo
meu paletó de bolinhas azuis
escolheu dependurar-se no cabide
mais honesto do seu armário;
os sapatos quadrados de flapper
esconderam-se debaixo das suas
inúteis gavetas de cuecas,
e já avisaram: não partirão.
ainda é cedo, meu bem,
mas não temos recursos,
tampouco a resistência
dos laicos vãos para
combater a cólera
dos objetos -
antevejo um anel incognoscível
[ainda pouco visível a olho nu]
cingir-se derradeiramente
no meu dedo esquerdo
- o dedo que conduz ao coração.
aquela coroa de hortênsias
pende, suspensa no ar,
com véu, auréola sorrateira,
prestes a deitar sobre mim
chuvas de arroz e riscos
de tinta azul e raios
e raios
e raios
. as sutis monções que desem-
bocam no sul
de um país imaginário
nos trazem bênçãos: elas vêm
em tríades de cobre, chumbo
e outros metais nobres
que a-pa-re-ce-rão
. as sutis monções que desem-
bocam no sul
de um país imaginário
nos trazem bênçãos: elas vêm
em tríades de cobre, chumbo
e outros metais nobres
que a-pa-re-ce-rão
intocáveis, imensuráveis,
em nome dos objetos
sólidos e dos que nunca o serão
virão também aqueles que representam
os noivos e noivas gasosos
que outrora mergulharam
de livre escolha
virão também aqueles que representam
os noivos e noivas gasosos
que outrora mergulharam
de livre escolha
ao olho ígneo do furacão.
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