Dos dedos entrelaçados
fez-se a distância.
E das cores cítricas e estivais
fez-se o azul-petróleo crepuscular
- alguns instantes mais avermelhado
antes da noite bruta se instaurar.
E eu?
Eis que me torno
uma mulher lunar.
Pálida e redonda,
fora de curso:
um satélite desolado
a girar.
Dos dedos entrelaçados
fez-se a ausência.
Do vestido coral,
a demora
e a gaveta.
Do olhar fulminante dele
- um cometa! -
apenas o telescópio,
a resignação tutelar
de luneta.
Da voz habitual,
o eco desaparecido
e fantasmal.
Uma galáxia interditada
por outra mulher bela
e setentrional.
A pairar,
o rosto envolto em brumas
leitosas,
tão densas e opacas
que nem anos tenazes de luz
seriam capazes
de dissipar.
Dos dedos entrelaçados,
fez-se a ausência
de universos inteiros.
E da ausência
eu,
sendo preenchida
por um azul espesso
e medular.
Agora,
da ausência
dos dedos apenas
a renúncia epidérmica do toque,
a falência do gesto.
A pantomima muda
e súplice
da distância
entre dois corpos,
que sequer um cataclisma
pode aproximar.
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