Há algo impronunciável. Uma língua perversa e obsoleta que não compreendo.
Demônios de linguagem inexorcizáveis, que dobram-se em pérfidas gargalhadas e murmuram cantilenas picantes. E assoviam sortilégios antigos e aziagos de fadas más e extintas.
Há algo que se agarra. A palavra proibida que sequer pode ser articulada, que se enrosca pelos músculos tesos da minha língua paralisada.
Margeio então pelas bordas devastadas da impronúncia, duvidando, desconfiando de tudo.
Dispenso o sentido como faria uma rainha ímpia e impávida, como se nem me importasse.
Há o precipício e o caminho da fala - o melhor dos artifícios.
E entre eles: o império subterrâneo do intervalo, para onde migro.
Até que enfim, eu reconheço. Lá vem o esmorecimento da resistência, o desassossego elevado à potência paroxística e a ausência quase completa de movimento. O silêncio.
O torpor lento, mas tenaz do esquecimento e por fim, a dissolução em aquarela de todos os contornos.
Um exílio de linguagem onde me encontro.
Não pode estar tão exilada se conseguiu escrever.
ResponderExcluirO seu 'exílio' terminou no momento em que construiu o seu texto, moça.
E.