terça-feira, 15 de junho de 2010
Repulsa ao sexo (Repulsion, 1965) - dir. Roman Polanski
Se Psicose (Hitchcock, 1960) é um dos meus dos meus filmes preferidos da adolescência (acho que assisti pela primeira vez aos doze, treze anos), tendo exercido juntamente com outros filmes do diretor uma influência estética talvez definitiva, e mesmo um curioso fascínio com respeito à temática psicológica no cinema, posso dizer, no entanto, que ele NÃO É o meu favorito dentro do tema.
Querelas diagnósticas à parte, aliás, hoje me questiono se Norman Bates não era no fim das contas um perverso. A dissociação histérica grave também me passou pela cabeça. Fica a dúvida, enfim.
Mas na minha opinião de psicanalista mafiosa, o verdadeiro mestre da psicose no cinema é Roman Polanski.
Com cerca de dezessete anos, eu fiquei impressionadíssima com O inquilino (Le locataire, 1976), dirigido e atuado por Polanski. O estranhíssimo filme retrata com genialidade o brotamento e estabelecimento de uma brutal paranóia em um rapaz (o próprio Polanski) que aluga um apartamento aonde o locatário anterior cometera suicídio.
Anos depois, cursando a disciplina de Teoria Psicanalítica H (Sobre o texto de Freud de 1923 O eu e o isso), a professora mencionou esse filme para indicar um retrato cinematográfico interessante do conceito lacaniano de empuxo ao feminino, presente geralmente de forma devastadora na psicose.
Nenhuma dúvida de que O inquilino apresenta um dos mais marcantes momentos cinematográficos de travestimento em um contexto de psicose. Inesquecível.
Repulsa ao sexo, lançado onze anos antes por Polanski - e assistido por mim oito anos depois de ter arrepiado os cabelos da nuca com O inquilino - é uma obra-prima.
Creio nunca ter visto a erotomania tão bem caracterizada nas telas. Outros elementos como a construção meticulosa do delírio de perseguição; a aparente economia e precisão imagética que optou-se por dar às alucinações da personagem de Carol (Catherine Deneuve,aos 21 anos)e até mesmo os movimentos repetitivos e cacoetes (estereotipias)me fizeram questionar se, de fato, Polanski não fizera um estudo prévio das patologias mentais, sobretudo da psicose.
Porque é gritante o fato de que, do contrário, ele possui uma compreensão intuitiva brilhante do tema.
Só me resta tentar recordar (repetir e elaborar hahaha) as palavras de Freud numa possível nota de rodapé de Além do Princípio de prazer (1920). Alguma coisa como aonde nós (os cientistas e pensadores) chegamos claudicando, o poeta (e o artista, par excellence) chega voando.
Ou qualquer coisa do gênero.
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E eu acabei de decidir o que vou fazer nesse final de semana. :)
ResponderExcluirThanks!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluircomo diria tua avó americana em seu português com sotaque pernambucano
ResponderExcluir'afe maria!'
lourinha desgracenta. bunitinha mas malditinha.
nunca mais verei nossa casa alagando com os mesmo olhos...
nem uma manicure.
Estava procurando mais a respeito deste filme da Catherine Deneuve e adorei seu texto. obrigado :-)
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