A verdade é que eu alterno perfumes, como que para despistar.
Confundo os que, tolos, capturados por estes odores artificiais, tentam em vão me impor a ditatura de um único frasco, ao arriscarem me engarrafar.
Entre a fórmula cítrica atemporal - que preserva a imagem do cheiro de todas as intempéries da memória e dos anos - gosto também de vestir vez por outra uma pitada fragrante e outonal de lírio-do-campo, ou algumas gotas meticulosas de outra composição floral.
Mas quando sóbria me faço, escondo. Da acidez me dispo e encorpo.
Posso até ser cítrica na alma, - até a raiz dos cabelos - contudo eis que me apresento circunspecta e banal a todo e qualquer apelo; canhestra e amadeirada na superfície.
E se porventura a ironia se insinua por entre os meus poros, acomodando-se nas brechas, nas frestas do meu rosto, nas curvas sardônicas do meu corpo, assumo o azedume.
Sou então embalsamada por maracujás secos; limões e pitangas se unem em novelos perfumados, em anéis-de-cheiro feito arredios vagalumes em mim pousados. E me tornam mais cínica, sirigüelamente mais cética do que de costume.
No entanto, houve quem dissesse - e quem diria! - que eu tenho um cheiro próprio, particular.
Não sei se acredito.
Me contou ele ao pé do ouvido, que nua, o meu cheiro assemelha-se aos damascos frescos e recém-dormidos, que secam ao sol, junto, bem junto do mar.
Amei!
ResponderExcluirSabe que uma vez num supermercado eu peguei um damasco na mão e foi uma coisa tão intensa, ele era tão lindo, como roçava bem no meu rosto, comprei quatro e comi depois de cheirá-los e senti-los....
Sabe, eu acho o cheiro o mais perverso, o mais difícil de não sentir, espreitando narinas pronto para atacar com memórias e lembranças quase inventadas.