Não sei se sou prosa
ou poesia.
Minhas palavras douradas
de areia amanhecida
esfarelam-se
e se confundem
etéreas
com a maresia.
O mar invade
os limites finíssimos
da letra
e eu transbordo
pelas fronteiras
inteiriças
do papel.
Uma escrita que margeia,
sempre pelas beiras,
esgarçando
o véu opaco e espesso
da sintaxe,
inaugurando uma nova ordem:
o impasse da ficção;
o primado dos sons;
a dinastia da aliteração.
Não sou eu quem escrevo,
sou escrita.
Registro em parte
a partida.
Que sempre retorna e
que metamorfoseia-se
na ida.
Avanço a tesouradas
em direção
à palavra original.
Abro uma grota
na frase, uma ferida.
Estanco parágrafos
e tampono períodos.
Descasco
até despir por completo
o sentido.
Não sei não.
Não sei se sou prosa
ou poesia.
Se ficção
ou biografia.
Desconfio, meus caros,
se sou mesmo
de verdade,
ou se o meu elemento
não é na realidade
nada mais que invenção.
* Inspirada por Suzete, uma amiga antiga - e matemática brilhante! - que, em uma tentativa deliciosa de se beneficiar das minhas habilidades de decifradora de sonhos enquanto 'psicanalista mafiosa', me contou ter sonhado que era um teorema.
Que honra!!! Amei!!!
ResponderExcluirDefinitivamente poesia, moça bonita. Pelo menos é o que parece.
ResponderExcluirE.