Desencaixotando Rita

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terça-feira, 1 de junho de 2010

Em solidariedade à Suzete*

Não sei se sou prosa
ou poesia.

Minhas palavras douradas
de areia amanhecida
esfarelam-se
e se confundem
etéreas
com a maresia.

O mar invade
os limites finíssimos
da letra
e eu transbordo
pelas fronteiras
inteiriças
do papel.

Uma escrita que margeia,
sempre pelas beiras,
esgarçando
o véu opaco e espesso
da sintaxe,
inaugurando uma nova ordem:
o impasse da ficção;
o primado dos sons;
a dinastia da aliteração.

Não sou eu quem escrevo,
sou escrita.
Registro em parte
a partida.
Que sempre retorna e
que metamorfoseia-se
na ida.

Avanço a tesouradas
em direção
à palavra original.
Abro uma grota
na frase, uma ferida.
Estanco parágrafos
e tampono períodos.

Descasco
até despir por completo
o sentido.

Não sei não.
Não sei se sou prosa
ou poesia.

Se ficção
ou biografia.

Desconfio, meus caros,
se sou mesmo
de verdade,
ou se o meu elemento
não é na realidade
nada mais que invenção.


* Inspirada por Suzete, uma amiga antiga - e matemática brilhante! - que, em uma tentativa deliciosa de se beneficiar das minhas habilidades de decifradora de sonhos enquanto 'psicanalista mafiosa', me contou ter sonhado que era um teorema.

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