Desencaixotando Rita

Desencaixotando Rita
Powered By Blogger

terça-feira, 22 de junho de 2010

She's gonna get married!



Minha sistah vai se casar!!!

E como não poderia deixar de faltar, aí vão seus últimos momentos de solteira - divetidíssimos, inclusive, neste último sábado 19/06.
O Boteco Salvação jamais será o mesmo. "Xandão" - o garçon mais hilário ever - que o diga!



Entre mojitos, doritos, apitos e balões de corações teve muita gente que se queimou feio no "eu nunca"...

Um porre de respeito, né, neguinha? =D




#Um brinde ao cu! \o/

Ah, Julia, adivinha aí: "Não te conheço bem, mas fui na tua CARA duas vezes e achei LINDA!!"

Enfim, desejo toda a felicidade do mundo aos noivos! E domingo estaremos todas de novo lá...

http://www.youtube.com/watch?v=N4QSqVtcsQM

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Estado de sítio

Alerta:

O terreno que diviso
encobre
perigos invisíveis

entre línguas de pólvora
e disparos fumegantes,

avisto

um campo minado
ao longe

uma dúvida espatifa-se

abismada

não tenho certeza
se sou

a bomba

ou



a andarilha desavisada.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Repulsa ao sexo (Repulsion, 1965) - dir. Roman Polanski




Se Psicose (Hitchcock, 1960) é um dos meus dos meus filmes preferidos da adolescência (acho que assisti pela primeira vez aos doze, treze anos), tendo exercido juntamente com outros filmes do diretor uma influência estética talvez definitiva, e mesmo um curioso fascínio com respeito à temática psicológica no cinema, posso dizer, no entanto, que ele NÃO É o meu favorito dentro do tema.
Querelas diagnósticas à parte, aliás, hoje me questiono se Norman Bates não era no fim das contas um perverso. A dissociação histérica grave também me passou pela cabeça. Fica a dúvida, enfim.
Mas na minha opinião de psicanalista mafiosa, o verdadeiro mestre da psicose no cinema é Roman Polanski.
Com cerca de dezessete anos, eu fiquei impressionadíssima com O inquilino (Le locataire, 1976), dirigido e atuado por Polanski. O estranhíssimo filme retrata com genialidade o brotamento e estabelecimento de uma brutal paranóia em um rapaz (o próprio Polanski) que aluga um apartamento aonde o locatário anterior cometera suicídio.
Anos depois, cursando a disciplina de Teoria Psicanalítica H (Sobre o texto de Freud de 1923 O eu e o isso), a professora mencionou esse filme para indicar um retrato cinematográfico interessante do conceito lacaniano de empuxo ao feminino, presente geralmente de forma devastadora na psicose.
Nenhuma dúvida de que O inquilino apresenta um dos mais marcantes momentos cinematográficos de travestimento em um contexto de psicose. Inesquecível.

Repulsa ao sexo, lançado onze anos antes por Polanski - e assistido por mim oito anos depois de ter arrepiado os cabelos da nuca com O inquilino - é uma obra-prima.
Creio nunca ter visto a erotomania tão bem caracterizada nas telas. Outros elementos como a construção meticulosa do delírio de perseguição; a aparente economia e precisão imagética que optou-se por dar às alucinações da personagem de Carol (Catherine Deneuve,aos 21 anos)e até mesmo os movimentos repetitivos e cacoetes (estereotipias)me fizeram questionar se, de fato, Polanski não fizera um estudo prévio das patologias mentais, sobretudo da psicose.
Porque é gritante o fato de que, do contrário, ele possui uma compreensão intuitiva brilhante do tema.

Só me resta tentar recordar (repetir e elaborar hahaha) as palavras de Freud numa possível nota de rodapé de Além do Princípio de prazer (1920). Alguma coisa como aonde nós (os cientistas e pensadores) chegamos claudicando, o poeta (e o artista, par excellence) chega voando.
Ou qualquer coisa do gênero.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

10/06/10

Há algo impronunciável. Uma língua perversa e obsoleta que não compreendo.
Demônios de linguagem inexorcizáveis, que dobram-se em pérfidas gargalhadas e murmuram cantilenas picantes. E assoviam sortilégios antigos e aziagos de fadas más e extintas.
Há algo que se agarra. A palavra proibida que sequer pode ser articulada, que se enrosca pelos músculos tesos da minha língua paralisada.
Margeio então pelas bordas devastadas da impronúncia, duvidando, desconfiando de tudo.
Dispenso o sentido como faria uma rainha ímpia e impávida, como se nem me importasse.
Há o precipício e o caminho da fala - o melhor dos artifícios.
E entre eles: o império subterrâneo do intervalo, para onde migro.
Até que enfim, eu reconheço. Lá vem o esmorecimento da resistência, o desassossego elevado à potência paroxística e a ausência quase completa de movimento. O silêncio.
O torpor lento, mas tenaz do esquecimento e por fim, a dissolução em aquarela de todos os contornos.
Um exílio de linguagem onde me encontro.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Me gusta lo no-dicho

Em tempos de mercúrio na oitava casa, ou ainda, em tempos de silêncio, quem tem meia-palavra é rei.
A quase-palavra se apresenta, todavia, como a eminência parda. A realeza legítima por detrás das camadas.
A semi-palavra. Que emerge ctônica das profundezas feito lava. E desaparece sem deixar vestígios.

Não me entendam mal, mais até do que os não-ditos eu gosto mesmo dos quase-ditos.
Aprecio as palavras que estão prestes a descobrir seu rosto, revelando o que têm a dizer.
No entanto, não o fazem.
Recolocam a bela máscara veneziana de bronze e pronto.
Lá estão novamente: inescrutáveis. Infinitesimais.
Quando prestes estou a desvelar-lhes o sentido, num instante recobrem-se de mistério. Uma grossa dobra de opacidade as envolve, interrompendo seu deciframento.

Estas são as minhas preferidas.
São tão astutas. Armam-se de setas, deslizam sobre velozes vetores e apontam. Logo mudam de direção e aquele sentido ignorado - para onde então apontavam - esvanece como a pobre Eurídice na medida em que eu, como Orfeu, lancei-lhe um olhar antes do momento.

Ah, o descompasso.
Estas palavras sabem tudo sobre ele. Tiram-lhe o máximo proveito.
Nascem deste intervalo, na verdade. E a ele sempre retornam quando acossadas pelas vãs exigências da linguagem.
Sentido? Estas palavras riem na cara do sentido.
Não se submetem a ele, esquivas que são.

A possibilidade de dizê-las é unicamente comportada pelo não-dizer. É apenas não-dizendo que estas palavras se mostram. È no brutal contraste com o silêncio que elas surgem triunfantes e certeiras.

É por isso que eu gosto dos não-ditos.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Aonde vão parar as lapiseiras perdidas?

Questão que me acompanha desde a infância.
Aliás, escuto ainda agora, como um eco longínquo, mas não perdido por completo, a voz indignada da minha mãe a me perguntar precisamente isso.
Às vezes era a lapiseira que ia embora primeiro. Mas canetas e borrachas partilhavam frequentemente o mesmo destino.
E eu ficava com o refil ora 0.7mm, ora 0.5mm, a chacoalhar solitariamente dentro da desordem multicolorida e fragmentada do meu estojo - antes de ser ele também misteriosamente dragado pelo buraco negro da minha mochila.
Já naquela época, tive consciência que não se tratava de uma questão de espessura. Perdia todos, finos ou menos finos.
Era outra coisa.
Aonde vão parar as lapiseiras perdidas?
Seguro a pergunta por mais um momento. Mas já aviso que não o faço para suster o impacto de uma possível resposta ou postergar o suspense de uma conclusão mirabolante.
Porque a verdade é que não tenho resposta alguma. Não faço idéia de onde vão parar; ignoro para onde foram.
Nem bem sei inclusive por que me lembrei disso.
Quer dizer, até sei. Mas preferia não saber.
Ontem, por uma (mais uma) das improváveis e rocambolescas circunstâncias da minha vida, fiquei sem luz. Quase o dia todo.
O autor do crime? Um disjuntor desarmado.
Desarmada estava eu diante da dificuldade inextrincável de uma porta trancada. Explico. Ocorre que o bendito desarmou durante o meu banho quente e a beleza indizível das coisas consiste no fato de que a caixa dos disjuntores do meu prédio é exterior aos apartamentos. Fica na portaria.
Portanto, o meu disjuntor estava lá embaixo, desarmado, dentro de uma portinha que se apresentou para mim cerrada, trancada à chave.
E a chave? Com o zelador ou o porteiro. Aonde? Sabe-se lá. Feriado tem dessas coisas.
Por volta das oito e pouco da noite, depois de ser lentamente engolida por uma penumbra que se mostrou estranhamente acolhedora, eis que a verdade dos fatos sofre uma completa torção e se revela.
Não havia tranca. "Era só puxar com força." - nas palavras da síndica.
A luz retorna.
Dou-me conta de que, de alguma forma, algumas portas não estão realmente trancadas. E mais: algumas vezes, abrem minha porta sem que eu perceba. E por essa brecha se esgueiram mil coisas.
Por exemplo a pergunta. E um rastro dolorido de coisas com ela.
Emerge com ela a pergunta sobre a qual equilibra-se todo o meu desassossego - em blocos maciços e trôpegos.
Aonde vão parar as coisas que eu perco?
Normalmente, evito o quanto posso essa pergunta. Passo veloz e me faço de desentendida. Mas hoje não consegui.
Por algum motivo, escancararam-se coisas com a abertura desta porta. E que coisas?
Nada mais do que lampejos. E dos mais fugazes até.
Por um átimo, tive um vislumbre da minha vida enquanto trajetória, da minha própria história.
Todas as pessoas-farol que de alguma acenaram algum rumo entrevisto nos momentos mais ou menos turbulentos; toda a pequenez (e a inevitável sordidez das pequenas coisas)do que eu sou e das pessoas que eu fui.
De onde eu vim. O chão que recebeu os meus passos - quase sempre - titubeantes, na ponta dos pés.
Por onde eu andei? Como eu vim parar aqui? Não era claro.
A minha cidade diminuta e embolorada, atrasada; as coisas pelas quais eu me apaixonei e desapaixonei. Aquilo que me envergonha. Até hoje.
As pessoas que eu perdi.
Tudo isso me atingiu em um intervalo compacto e vertiginoso. Como pode? - eu pergunto.
Foi suficiente para desengavetar meses e meses de emoções cuidadosamente represadas, confinadas até segunda ordem e, que eu considerei até então irrecuperáveis.
Vou dizer que doeu um bocado.
Era disso que eu sempre fugi. Percebo.

É. Declaro o fim da anestesia. Não amorteço mais nada. Lapiseiras à parte, se é para doer, que doa.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Em solidariedade à Suzete*

Não sei se sou prosa
ou poesia.

Minhas palavras douradas
de areia amanhecida
esfarelam-se
e se confundem
etéreas
com a maresia.

O mar invade
os limites finíssimos
da letra
e eu transbordo
pelas fronteiras
inteiriças
do papel.

Uma escrita que margeia,
sempre pelas beiras,
esgarçando
o véu opaco e espesso
da sintaxe,
inaugurando uma nova ordem:
o impasse da ficção;
o primado dos sons;
a dinastia da aliteração.

Não sou eu quem escrevo,
sou escrita.
Registro em parte
a partida.
Que sempre retorna e
que metamorfoseia-se
na ida.

Avanço a tesouradas
em direção
à palavra original.
Abro uma grota
na frase, uma ferida.
Estanco parágrafos
e tampono períodos.

Descasco
até despir por completo
o sentido.

Não sei não.
Não sei se sou prosa
ou poesia.

Se ficção
ou biografia.

Desconfio, meus caros,
se sou mesmo
de verdade,
ou se o meu elemento
não é na realidade
nada mais que invenção.


* Inspirada por Suzete, uma amiga antiga - e matemática brilhante! - que, em uma tentativa deliciosa de se beneficiar das minhas habilidades de decifradora de sonhos enquanto 'psicanalista mafiosa', me contou ter sonhado que era um teorema.

Logro dos cheiros

A verdade é que eu alterno perfumes, como que para despistar.
Confundo os que, tolos, capturados por estes odores artificiais, tentam em vão me impor a ditatura de um único frasco, ao arriscarem me engarrafar.
Entre a fórmula cítrica atemporal - que preserva a imagem do cheiro de todas as intempéries da memória e dos anos - gosto também de vestir vez por outra uma pitada fragrante e outonal de lírio-do-campo, ou algumas gotas meticulosas de outra composição floral.
Mas quando sóbria me faço, escondo. Da acidez me dispo e encorpo.
Posso até ser cítrica na alma, - até a raiz dos cabelos - contudo eis que me apresento circunspecta e banal a todo e qualquer apelo; canhestra e amadeirada na superfície.
E se porventura a ironia se insinua por entre os meus poros, acomodando-se nas brechas, nas frestas do meu rosto, nas curvas sardônicas do meu corpo, assumo o azedume.
Sou então embalsamada por maracujás secos; limões e pitangas se unem em novelos perfumados, em anéis-de-cheiro feito arredios vagalumes em mim pousados. E me tornam mais cínica, sirigüelamente mais cética do que de costume.
No entanto, houve quem dissesse - e quem diria! - que eu tenho um cheiro próprio, particular.
Não sei se acredito.
Me contou ele ao pé do ouvido, que nua, o meu cheiro assemelha-se aos damascos frescos e recém-dormidos, que secam ao sol, junto, bem junto do mar.

Insônia

Me vejo impelida à contradição como que conduzida por uma força imperativa e motriz - magnética e inelutável.
Um ser dividido? - eu me pergunto. Somos todos.
Os cavalos que conduzem a minha carruagem andam a distrair-se pelas errâncias de cada caminho dúbio, a hesitar; seguem divididos a espreitar por entre hera e musgo, por entre os lampejos quiméricos dos arbustos, a outra vida que eu pretendo lhes negar.