Desencaixotando Rita

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domingo, 29 de maio de 2016

"escrevo teu nome no grão"

por tudo o que tomba
sem se reerguer sem
sequer lembrar da queda
        pela sombra 
que nunca é proporcional
   à luz          
                 pela sombra 
que não é proporcional
de maneira alguma
                      à luz
te escrevo o nome
onde se escondem 
as montanhas
onde o sinal do celular
    n ã o           pega
nãopega nãopega n-ã-o pe-ga
escrevo ainda
com a tinta 
que extraio dos moluscos 
que aparecem mortos 
pela praia
no inicinho da manhã

pelo esquecimento compulsório
    da 
     q
     u
     e
     d
     a



"escrevo o teu nome 
   no grão de arroz"



porque saturno retorna 
        fora de hora
e a sombra não é proporcional
               ao facho de luz 
             que te acompanha
[e é um absurdo que a luz
produza tantos monstros 
com tamanha facilidade]
porque há sim pulsação nos vasos
         altamente periculosos
           das minhas pernas
e por tudo aquilo que tomba
                 sem levantar-se:
toma este grão luminoso
 onde te escrevo o nome
   devidamente instalada

             na virada invisível 
                                 do rio

terça-feira, 10 de maio de 2016

"nota sobre a manufatura doméstica de mitos autodestrutíveis"




na nossa pequena fábrica de ruínas
eu pedalo indoors 
porque não sei bem o que faço 
com tamanha liberdade
tenho um pouco de medo dos grandes espaços                     abertos
por isso os círculos
                   por isso 
eu puxo os  aparelhos ergométricos pelos guidões
um suave deslocamento sem [realmente] sair do lugar 
puxo a bicicleta pelo guidão riscando o chão da sala
como se segurasse 
um touro pelos chifres
~um minotauro ex machina
de uma mitologia recém-criada ~
e finjo assistir um seriado sentada 
ou termino um romance russo esfarelando
páginas amarelecidas 
        compreendo bem todas as suturas 
do mais célebre parricídio da literatura

por isso os círculos




                                           por isso 
as tentativas insalubres de figurinos extras
como se estivesse finalmente preparada
para ocupar o papel de protagonista

e esses furos acidentais
seguem perpetrados pelos dedos
ou pela máquina de costura?

por isso 
os capilares intradérmicos
perfurando invisíveis 
partes ainda por vir
        do meu corpo

e o aprendizado lentíssimo
da pecilotermia
 meus minidemônios meridianos 
brotando barbatanas brânquias
                           braços

enquanto fraturo 
ossos imaginários
para acolher 
em silêncio
    uma nova ordem

                   de feras 

                                                                        







 por isso
você sabe
 os círculos