Desencaixotando Rita

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quarta-feira, 11 de maio de 2011

ditos e [entre]ouvidos por aí (parte 1)

i- dos olhos meus

cansada e com fome, encerro a minha jornada de quarta-feira no supermercado mais próximo de casa, ávida por um lanche que me enchesse além do estômago, os olhos.
a pressa, sempre maior em mim do que a sofisticação me obriga a ir para o caixa com apenas alguns pãezinhos de sal quentinhos, recém saídos do forno.
a caixa, uma mulher inusitada, jovem e robusta, de cabelos moicanos bem curtos e alguns piercings pendurados no rosto, sorri para mim enquanto pesa os pães transpirando dentro do saco. De repente, me encara com uma atenção inédita e pergunta:

- esses olhos são seus mesmo?

o que responder? me lembrei da chapeuzinho, do lobo e bobices do tipo. pensei em dizer algo espirituoso. achei melhor não.
acabei balbuciando, surpresa:

- sim...? - de quem mais seriam, eu pensei aturdida.

eis que ela os mira mais profundamente ainda e prossegue:

- parecem de gato - e faz uma pausa quase dramática - eles brilham no escuro, sabia?

não, não sabia.
paguei e saí.
com os olhos que nem sabia que tinha.

ii - das metamorfoses diárias

meu tio conta que andando uma vez com meu priminho - uma criança bastante agitada de cinco anos - pelo shopping center de sua cidade, foi de súbito impedido de prosseguir ao perceber que o filho não andava mais ao seu lado.
não era a primeira vez que o perdia de vista, ele contou.
parou e olhou ao redor. lá estava ele. atrás de si, rolando no chão emporcalhado do primeiro piso. e também não era a primeira vez, ele acrescentou.
apreensivo que se tratasse de mais uma birra, ele tentou cortá-la pela raiz, buscando o menino pelo braço, fazendo-o se levantar.
ao que meu primo, resiste e retruca, impaciente:

- peraí, pai. só mais um pouquinho... - é que eu vou me transformar num tigre.

iii- dos acenos distantes

presenciei na semana passada um encontro entre desconhecidos, um homem e uma mulher que há muito não se viam. um quase encontro talvez, pois entre ambos havia a distância uma rua e duas calçadas. e algumas árvores.
o rapaz, bem mais jovem que a moça em questão retribuiu ao aceno simpático dela depois de alguns instantes. como que para justificar talvez a sutil demora ele lhe gritou por sobre os ombros, pois do outro lado da rua ela já se afastava:

- eu quase não te reconheci, hein! - me lembro do exato momento em que pensei que esse comentário poderia tranquilamente invadir as tênues fronteiras do tato social.

quando ele não esperava mais um resposta - e eu tampouco -, já cruzando a esquina, ela acrescenta alto suficiente para que ele e eu ouçamos:

- É, eu sou assim mesmo... uma camaleoa!

presença de espírito, babe. de onde eu venho, é assim que eles chamam.

5 comentários:

  1. Minha blogueira favorita voltou!
    Fico feliz por isso
    Marco Túlio

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  2. as cronicas falam por si...eu passei aqui só pra perguntar sobre os peixinhos aos quais eu costumava dar comida imaginaria com a ponta do cursor do mouse....e entao?

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  3. Bruno, vou te dizer que o blogger resolveu tirar uma com a minha cara esses dias... rs

    Mudei todo o layout e daí ele ignorou. Dois dias no ar e daí eu entro e cadê as modificações? E ainda por cima 'comeu' alguns comentários do último post. =P

    Enfim, os peixinhos vão voltar em breve...

    ;)

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  4. As nuances do cotidiano, são por vezes, pura poesia!

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