Desencaixotando Rita

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quarta-feira, 16 de julho de 2014

"carta a um morcego-leão por ocasião de um casamento" [às 3h40 da manhã]

Te escrevo a mão, prestes a entrar, pé ante pé, nesta casa de gelosias e biombos imaginários, pois sei que uma vez dentro, surgirei com mais uma, essas que já me são tantas - heteronímicas e pérfidas, doces ou covardes - incontáveis, craqueladas, até agora. Somos duplos e múltiplos, como peixes, meu amor.

          A sua respiração já me frequenta há tempos,
          à distância, antes até mesmo de nos encontrarmos
                   [pela primeira, pela segunda vez?]
          e me vejo obrigada a reorganizar o meu corpo
          ao teu ritmo sonar, à tua pulsão,
                                você, que é tocado pelo fogo

e que secou minhas lágrimas como se nunca tivesse existido
                                                                         água neste poço.


Ainda não sei bem o que fazer de ti, o arqueiro inflável de setas perigosas. Clown ébrio, exu insondável.
Não sei como me manter a salvo de tua sorte jupiteriana e do cortejo bacante dissimulado de caçadoras argentinas, dançarinas de mastro e esguias valquírias, 
                                                                           que andam no teu rastro.
       
Desconheço a extensão de todos os teus nomes, dos meus e dos que virão. O signo do duplo é a nossa casa e nessa casa só se entra uma vez.

Há meses que as moedas se avizinham e anunciam um andarilho. Ouço teus cascos ao fundo.
O baralho deita sobre a toalha da mesa o jogo do prestidigitador, um mago de dedos rápidos e palavras afáveis, carregando livros sobre os ombros e versos sob a pele de lobo.Sim, os oráculos delineam o contorno 
de um marido. É isso o que você é? - me diga

e eu prometo contar-te dos filhos gêmeos que profetizei na noite 

em que pusemos os olhos um no outro.

Um comentário:

  1. Diga a esse morcego sortudo que o casamento é para os fortes.

    Saudações,

    E.

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