quando saímos à noite
eu: um coelho selvagem
em cruzeiro atlântico
você: um surfista nativo
de uma cornualha rochosa
em suma em suma
~ não há habitat natural
possível para nosotros ~
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e tenho me perguntado
a respeito da memória
que restou dessa luz infeccionada
a emitir padrões na pista de dança
como algoritmos infinitos
de perversidade estroboscópica
-- pequenos eventos de led
a percorrer outros corpos absortos
em batidas binárias
e localizo no tempo enquanto
ensaiávamos alguns passos de dança
essa microvilosidade luminosa
de um único ponto
que insiste
em mirar o teu peito feito seta latejante
[ homicida -- eu tenho certeza ]
como quando
um primeiro objeto perfurante
acertou em cheio um alvo
e
viu
escorrer
um filete
crescente
de
sangue
eis que retornamos finalmente
ao largo fumegante
onde nunca
nunca mesmo
caiu nenhum floco de neve
saiba portanto
que eu dedico
esta grave infâmia :
a todos os cômodos
que falham em caber
dentro de uma casa
a todos os móveis
uranianos i n d i s c i p l i n a d o s
que se rebelam diante
da geometria incansável
de paredes
criando arestas
e ilhas de resistências
no assoalho
formando ângulos indivisíveis
e arcos e arcos e arcos
e ocupações inabitáveis
dentro de todo e qualquer
confortável seio doméstico
é preciso situar
o verdadeiro perigo
justo onde
ele parece autorizado
a provocar pequenos
acidentes por pouco
imperceptíveis
desastres calculados
na parte hidráulica
da cicatriz
para envelhecer o poema
onde ele quase margeia
a membrana
do tímpano
e a impenetrabilidade
da pedra
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