não ouso mesmo te revelar
do desejo insincero de ser outra:
pele e vísceras singradas,
sopro, soluço
- uma outra.
não sei mais o que esperar
do risco
e eu queria mesmo voltar a ser aquela
que sabe usar o silêncio como uma adaga
de cinco pontas e 22 cartas de baralho --
a mesma que você embebedou tantas e tantas vezes
com o consentimento das pessoas perigosamente enamoradas,
de pernas cruzadas, unhas precocemente descascadas,
cabelos em desalinho, bochechas rosadas,
essa outra.
porque, percebe, em torno de mim tudo sempre gritou 'provinciano'
em neon, piscando, mesmo que eu soubesse ser elegante
como uma concumbina chinesa com ascendente em imperatriz-to-be
embora eu ainda saiba usar de sofisticação a meu favor como se usa
uma nuvem de perfume caro com a naturalidade letal
que neutraliza os sapatos gastos comprados a prazo
mas não esconde uma vergonha íntima tão antiga
que já não se encontra nem a matriz
e tampouco o fim
e o que você chama de paisagem, meu amor
eu chamo mesmo de uma bela cicatriz
causada por outros e inúmeros impactos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentam por aí...