sexta-feira, 11 de novembro de 2016
"sobre o incidente de emagrecer 5kg e se tornar uma serpente mítica grega por alguns dias"
escrevo este poema
neste estado de cetose
química
que nada mais é do que
o termo médico
para quando o corpo
resolve devorar a si próprio
[como a serpente ouroboros
que engole a própria cauda
infinitamente non stop]
depois de um período de privação
de carboidratos
simples
ou complexos
[ou depressão anoréxica]
ou simplesmente
um jejum prolongado
aqui
entre estas doze paredes
e suas incontáveis quinas
arestas ângulos agudos
o b t u s o s
[eu contei todos esses dias]
não há amor
não há sombra
nem carboidratos
é a porra da terra devastada
do eliot
só há esta luz que penetra
tornando tudo nítido demais
as cores primárias demais
essa saturação insuportável
onde estão os fifty shades de
qualquer maldita cor que seja?
quem diria que a sutileza
se perdia
junto com os carboidratos?
'um nevoeiro mental' o médico disse
'é um dos sintomas
você vai ver'
significa que está funcionando
e em breve
esse peso também irá embora
[mas não]
eu vejo mesmo todos os contornos
não há nada difuso aqui
nem nevoeiro nem sombra
eu vejo todos os contornos
excessivamente
quero rasurá-los
mas eles se recompõem
quando eu não estou olhando
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