me descreveram extensamente seus traços aristocráticos,
sua testa alta, os olhos límpidos azuis, sua tez de valquíria,
e soube que você cresceu em frente ao mar e que
fora uma criança recessiva numa família de possíveis alcoólatras,
mas que não hesitou em seguir ~abstêmia, é verdade ~ o mesmo caminho.
fui informada das suas tardes no clube, suas aulas de equitação e você sabe que
eu vivi pouco mais de um ano na sua casa e admito, portanto, que prestei homenagem
à deidade teutônica que você deixou em seu lugar quando foi embora,
levando às pressas na mala os livros de liberalismo econômico e as novelas de
Henry James, deixando um homem (é correto dizer o "nosso homem?") decomposto
em vários mosaicos, os quais eu, com minha lua em peixes, solucionei rápido demais.
há o preço a se pagar por isso.
há os filhotes de camundongo escondidos no assoalho,
mas há mesmo o mistério que é você, desaparecida [a mulher anterior]
sem vestígios,
sua beleza apolínea -- uma moça de carreira, concursada,
dourada e, esquecido sobre a mesa, o lubrificante vaginal,
seu sobrenome radiofônico na correspondência que
continuou chegando por meses,
você, meu demônio incidental particular,
seu sangue azul Chagal
manchando o sofá.
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