Desencaixotando Rita

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sexta-feira, 22 de agosto de 2014

este corpo

solfeja vapores acres
e cores intersticiais
um girassol de van gogh no peito aberto
de feridas granuladas por bicos de aves mesozoicas
e suas asas intercaladas, retóricas.
este corpo flamula camadas de carne antibiótica
por uma cidade de artérias e cânulas intravenosas.

exibo satisfeita, no entanto,
um colar moçambicano de dentes
arrancados
pendendo pelos seios
siameses e africanos.

tenho sede
no baço e a língua escapole
pelos lábios; meço navios fantasmas
e náufragos, com os braços içados, noite e dia,
ingurgitando na pele sovada queixumes
de senhoras estrangeiras com sombrinhas floridas
e joias guardadas em cofres,
noite e dia
um zumbido estertor,
tenho sede pelos braços, pelos cotovelos
e nos tornozelos rompidos; este corpo não é meu.

este corpo acende-se
como um lago
em noite de solstício;
um festim de ossos
a celebrar o fato notável
incompreensível do verão.


2 comentários:

  1. lindo, no ritmo firme, nas pegadas savânicas dos tambores ancestrais, e com a fúria de palavras com pontas tortas mas lapidadas a metal nobre, como sisos de meu deus... preciso muito ler isso um dia no papel das horas. vamos tratar de ver isso. te amo, posso ter um pouco desse corpo irreconhecível? do seu...

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    Respostas
    1. E o corpo diz: eu sou uma festa.

      e eu digo que você é convidado de honra.

      ;)

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