Desencaixotando Rita

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sábado, 12 de setembro de 2015

"delírio de ruína"


com o pensamento em 'ilhados', de ismar tirelli neto


gostaria, meus caros, de exibir neurotransmissores
sorridentes pela manhã, 
polvilhados com granola e frutas da estação,
mas é que me doem excessivamente os dentes, 
as juntas, 
e os sentimentos de reconhecimento
espatifam-se como pratos.
é que dói esse ligeiro rastro de pó
pelos trilhos e tacos 
até o desolamento dos meus sapatos 
à meia-luz, quase escondidos embaixo da cama.

para quem atina aos poetas
desavisadamente:

não há saídas de emergência aqui.
senhores, não há.
o fogo existe, mas
não é esperado,  
há um plano do qual não se fala
e a verdade é que pode-se estar sob a impressão
da impossibilidade do amor
por uma sombra,

contudo é recomendado não pensar muito sobre isso.


o vento que nos atinge nessas ilhas
é agourento.
não há ipês redentores nas calçadas,
não se recobre de folhas amarelas o chão,
esse vento sacode as ruas e vielas, os postes de luz
- os poste de luz bem sabem o que os espera. 
esse vento diabólico recria 
um quarteirão inteiro 
à minha própria imagem 
- este quarto desolado, de iluminação mortiça,
de umidade descendo licorosamente 
pelas paredes,
é um pequeno teatro
de morcegos e títeres emparelhados
representando com alguma dificuldade
as suas próprias vidas.

e o que temos aqui, prezados? 
farelos de self girando como átomos, 
sem a fortuita disciplina de uma molécula,
e tudo,

tudo decanta tão fundo,
por um sentido outro,
que não este,
que 
não me lembro
de escrever sobre a água
: ela que permitiria
acima de tudo,

o nascimento,
a escansão suave
                do grito.



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