Desencaixotando Rita

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quarta-feira, 19 de maio de 2010

Balada da ausência

Dos dedos entrelaçados
fez-se a distância.

E das cores cítricas e estivais
fez-se o azul-petróleo crepuscular
- alguns instantes mais avermelhado
antes da noite bruta se instaurar.

E eu?
Eis que me torno
uma mulher lunar.
Pálida e redonda,
fora de curso:
um satélite desolado

a girar.

Dos dedos entrelaçados
fez-se a ausência.

Do vestido coral,

a demora
e a gaveta.

Do olhar fulminante dele
- um cometa! -
apenas o telescópio,
a resignação tutelar
de luneta.

Da voz habitual,
o eco desaparecido
e fantasmal.
Uma galáxia interditada
por outra mulher bela
e setentrional.

A pairar,
o rosto envolto em brumas
leitosas,
tão densas e opacas
que nem anos tenazes de luz
seriam capazes
de dissipar.

Dos dedos entrelaçados,
fez-se a ausência



de universos inteiros.



E da ausência
eu,
sendo preenchida
por um azul espesso
e medular.

Agora,
da ausência
dos dedos apenas
a renúncia epidérmica do toque,
a falência do gesto.

A pantomima muda
e súplice
da distância
entre dois corpos,
que sequer um cataclisma
pode aproximar.

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