Desencaixotando Rita

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sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

"Noir"

   

faço votos
para que o talho
[a ferida melódica
no teu discurso]
trespasse o teu gesto
no escuro
e afugente de vez 
o mal




porque  nos  fulge
um apelo
          ao corpo 
           cósmico 
deste universo de avalanches 
         que nos cobrem
 em gloriosa aventura
 de facas de cozinha escondidas
              às pressas
e comprimidos,
e chuveiros ligados
e tempestades elétricas 
acuadas em apartamentos 
de dois cômodos, sem rotas
                                de fuga.


tenho tido soluços, arrepios
na base da espinha dorsal,
na base            da questão.
tenho esperado, com insistência febril
            por uma revolução sonar
de          decibéis                inaudíveis;
tenho implorado     re-pe-ti-da-men-te
por   um romance       policial      noir
e pela existência de Norma Desmond
                       compacta 
em minha mão 
imbuída 
de todas 
as más intenções.

não tenho certeza se
                        caibo
       nesta pequena vida 
que       diviso por entre 
a janela da sala, 
por entre nesgas de compromissos
e heteronormatividades de conduta
e filhos gêmeos - ainda não 
                             nascidos.

ana, 
não é bem verdade
que virar do avesso é, de fato,
uma experiência 
                mortal.
porque eu preciso da dúvida

: dessa incerteza corriqueira, 
                   [essa sim letal]
sobre a existência de algo 
                       verdadeiro,
sobre a existência de algo 
verdadeiro, sobre a existência
de algo verdadeiro
            que resista. 
sobre a existência que resista
a algo de verdadeiro, euprecisoda dúvida
que resista 
               a algo de verdadeiro
                   sobre a existência.


5 comentários:

  1. querida, deveriamos emoldurar este poema para dentro da garganta!

    vou imprimi-lo, desenhá-lo, pintá-lo, em minha casa nova de cigana

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  2. a casa cigana a gente carrega nas costas, peixíssima! - atributos dos peixinhos ciganos, caixeiros-viajantes, moças com olhos de lobo e daqueles que vivem nas bordas, no trajeto
    atraves-sando

    atravesse!

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  3. Ritinha, que ritmo e como faz pra botar o coração de volta no lugar?

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